Sífilis
A sífilis é uma infeção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. Apesar de conhecida há séculos, continua a ser um problema de saúde pública em Portugal e em vários países do mundo. Os sintomas iniciais podem ser discretos ou passar despercebidos, o que contribui para diagnósticos tardios.
É uma doença tratável e curável quando identificada precocemente. No entanto, se não for acompanhada adequadamente, pode evoluir para complicações graves, atingindo o coração, o sistema nervoso e, no caso das grávidas, o feto. A prevenção, o rastreio e o tratamento precoce são, por isso, fundamentais.
Tópico | Resumo |
O que é | Infeção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum, evolui em fases distintas. |
Possíveis causas | Relações sexuais sem preservativo; transmissão da mãe para o bebé; raramente: transfusões não rastreadas. |
Sintomas | Úlcera indolor inicial; erupções cutâneas e febre; fase silenciosa sem sintomas; complicações graves em fases tardias. |
Diagnóstico | Análises de sangue (testes treponémicos e não treponémicos); exames complementares em casos específicos. |
Tratamento | Penicilina benzatina é o tratamento de eleição; esquema varia conforme a fase; parceiros também devem ser tratados. |
Complicações se não tratada | Lesões neurológicas, cardíacas, oculares, gomas destrutivas e sífilis congénita. |
Prevenção | Uso de preservativo; rastreio regular; rastreio obrigatório na gravidez. |
Quando agendar consulta | Após contacto de risco, surgimento de lesões suspeitas ou durante a gravidez. |
O que é a Sífilis?
A sífilis é uma infeção bacteriana causada pelo Treponema pallidum, transmitida sobretudo através de relações sexuais desprotegidas. A doença desenvolve-se em fases que podem durar semanas ou anos, alternando períodos sintomáticos e assintomáticos.
É uma infeção sistémica: mesmo quando a lesão inicial se localiza nos órgãos genitais, a bactéria pode espalhar-se pelo sangue e atingir outros órgãos. Este caráter silencioso faz com que a sífilis seja frequentemente diagnosticada tardiamente.
Quais as possíveis causas da Sífilis?
As principais causas estão relacionadas com as formas de transmissão da bactéria. Na nossa experiência clínica, os mecanismos mais comuns são os seguintes:
- Relações sexuais sem preservativo, incluindo vaginais, anais e orais;
- Transmissão vertical da mãe infetada para o bebé durante a gravidez ou no parto, dando origem à sífilis congénita;
- Em situações muito raras, pode ocorrer em transfusões de sangue não devidamente rastreadas (praticamente inexistente em países com controlo rigoroso).
Quais os sintomas mais frequentes?
A sífilis evolui em fases distintas, e os sintomas variam consoante a etapa da infeção.
- Sífilis primária: surge uma úlcera indolor, geralmente única, nos genitais, boca ou ânus. Muitas vezes passa despercebida, porque cicatriza espontaneamente em poucas semanas.
- Sífilis secundária: semanas a meses depois, podem surgir erupções cutâneas, febre, mal-estar geral, dor de garganta e queda de cabelo. Estes sintomas também desaparecem sem tratamento, mas a infeção mantém-se.
- Sífilis latente: fase silenciosa, sem sinais visíveis, mas com risco de transmissão e de evolução para estádios mais graves.
- Sífilis terciária: anos após a infeção, pode afetar gravemente o coração, os ossos, os olhos e o sistema nervoso central (neurosífilis), provocando sequelas permanentes.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da sífilis é feito através de análises ao sangue que detetam a presença de anticorpos produzidos pelo sistema imunitário para combater a infeção. Existem dois tipos de testes:
- Testes não treponémicos (VDRL ou RPR): São utilizados para rastreio e para monitorizar a resposta ao tratamento.
- Testes treponémicos (TPHA, FTA-ABS ou testes rápidos): Confirmam a infeção, uma vez que detetam anticorpos específicos contra a bactéria Treponema pallidum.
Em alguns casos, pode ser necessário analisar o líquido de uma lesão para identificar a bactéria ao microscópio ou, em casos de suspeita de neurossífilis, analisar o líquido cefalorraquidiano (LCR), obtido por punção lombar.
Saiba mais em Teste às IST.
Quais os possíveis tratamentos da Sífilis?
A sífilis é uma infeção curável e o tratamento é altamente eficaz quando iniciado precocemente. A escolha da terapêutica depende da fase da doença e das características individuais de cada pessoa. Na nossa experiência no Douro Centro Médico, a avaliação personalizada é fundamental para garantir a eficácia e prevenir complicações.
O antibiótico de eleição é a penicilina benzatina, administrada por via intramuscular. O número de doses e o intervalo entre elas variam consoante o estágio da doença:
- Sífilis primária, secundária ou latente precoce (menos de 1 ano de evolução): uma única dose de penicilina benzatina é, na maioria dos casos, suficiente para eliminar a bactéria;
- Sífilis latente tardia (mais de 1 ano de evolução): exige três doses de penicilina, administradas semanalmente, garantindo níveis terapêuticos adequados;
- Sífilis terciária e neurossífilis: requerem tratamentos mais prolongados, geralmente com penicilina por via intravenosa, em ambiente hospitalar, durante vários dias;
- Sífilis congénita: o tratamento deve iniciar-se logo após o nascimento, com esquemas específicos de penicilina definidos em contexto pediátrico.
Em doentes com alergia à penicilina, podem ser considerados antibióticos alternativos, como a doxiciclina ou a tetraciclina. Contudo, estes fármacos não são recomendados durante a gravidez. Para grávidas, a penicilina é a única opção segura e eficaz. Nestes casos, pode ser necessário recorrer a um processo de dessensibilização à penicilina, realizado em ambiente hospitalar, permitindo a administração do tratamento sem riscos significativos.
É crucial que os parceiros sexuais da pessoa infetada sejam também testados e, se necessário, tratados para evitar a reinfeção e a propagação da doença.
Após o tratamento, é necessário realizar testes serológicos de seguimento (habitualmente aos 3, 6 e 12 meses), que permitem confirmar a cura e detetar eventuais reinfeções.
Qual a possível evolução / complicações se não tratada?
Quando não diagnosticada ou tratada, a sífilis pode evoluir silenciosamente ao longo dos anos e dar origem a complicações graves, muitas vezes irreversíveis. Na nossa prática, observamos que as consequências mais temidas afetam sobretudo o sistema nervoso, o coração e, no caso das grávidas, o desenvolvimento do bebé.
As principais complicações incluem:
- Neurosífilis: pode surgir em qualquer fase da doença, mas é mais frequente nas formas tardias. Pode provocar meningite, alterações de memória, dificuldades motoras, paralisia, AVC, demência, perda de audição ou visão;
- Sífilis cardiovascular: geralmente manifesta-se décadas após a infeção inicial. Aumenta o risco de aneurismas da aorta, insuficiência cardíaca e lesões nas válvulas cardíacas;
- Sífilis gomatosa: caracteriza-se pelo aparecimento de lesões destrutivas (gomas) que afetam a pele, os ossos e órgãos internos, podendo comprometer gravemente a função dos tecidos atingidos;
- Sífilis ocular: pode provocar inflamação ocular (uveíte), visão turva e até cegueira irreversível;
- Sífilis congénita: quando a infeção ocorre na gravidez e não é tratada, pode levar a aborto espontâneo, parto prematuro, natimorto ou sífilis congénita no recém-nascido. Esta última pode deixar sequelas, como deformidades ósseas, atraso no desenvolvimento, surdez ou cegueira.
A evolução da sífilis depende muito do tempo até ao diagnóstico e do início do tratamento. Quanto mais cedo for detetada, menor o risco de complicações graves e permanentes.
Quais os fatores de risco?
Qualquer pessoa sexualmente ativa pode contrair sífilis. No entanto, determinados comportamentos e situações aumentam de forma significativa a probabilidade de infeção. Entre os principais fatores de risco encontram-se:
- Relações sexuais desprotegidas (vaginais, anais ou orais), sem utilização de preservativo;
- Múltiplos parceiros sexuais, sobretudo quando não há rastreio regular;
- Coinfeção com VIH ou outras infeções sexualmente transmissíveis (IST), que facilitam a transmissão e podem agravar a evolução clínica;
- Historial prévio de IST, marcador de maior vulnerabilidade;
- Parceiro sexual com sífilis não tratada, mesmo que assintomática, uma vez que a doença pode estar numa fase silenciosa mas ainda transmissível.
Estes fatores não significam que a infeção seja inevitável, mas traduzem um risco acrescido. A prevenção continua a ser a estratégia mais eficaz.
Existem formas de prevenir a sífilis?
A sífilis pode ser prevenida através de medidas simples e acessíveis, que reduzem significativamente o risco de transmissão. As mais importantes incluem:
- Uso correto e consistente de preservativo (masculino ou feminino) em todas as relações sexuais, reduzindo o risco não só de sífilis como também de outras IST;
- Rastreio regular para sífilis, sobretudo em pessoas com múltiplos parceiros ou outros fatores de risco. Durante a gravidez, o rastreio é essencial para prevenir a sífilis congénita;
- Tratamento dos parceiros sexuais, é fundamental assegurar que os parceiros sejam avaliados, testados e tratados quando indicado.
FAQs
Perguntas frequentes
A sífilis tem cura?
Sim. A sífilis é curável com tratamento antibiótico adequado, geralmente com penicilina. No entanto, importa lembrar que o tratamento não reverte danos já causados por complicações das fases tardias.
Quanto tempo após a infeção surgem os primeiros sintomas?
A úlcera primária (que se designa cancro duro) surge habitualmente entre 10 e 90 dias após o contacto de risco, sendo mais comum ao fim de cerca de três semanas.
Posso ter sífilis sem apresentar sintomas?
Sim. Durante a fase latente, a infeção não causa sinais visíveis, mas mantém-se ativa no organismo e continua a ser transmissível.
Posso voltar a ter sífilis depois de já ter sido tratado?
Sim. O tratamento elimina a bactéria, mas não confere imunidade. É possível voltar a contrair a infeção se houver nova exposição.
A sífilis aumenta o risco de contrair o VIH?
Sim. As úlceras genitais provocadas pela sífilis facilitam a entrada do vírus VIH, aumentando o risco de transmissão.
Como sei se o tratamento foi eficaz?
Após o tratamento, devem ser realizados testes serológicos de controlo em momentos definidos (habitualmente aos 3, 6 e 12 meses). A descida progressiva dos títulos ou a sua negativação confirmam a eficácia terapêutica.
O que é a reação de Jarisch-Herxheimer?
É uma reação transitória que pode ocorrer nas primeiras 24 horas após o início do tratamento da sífilis. Provoca febre, calafrios, dores de cabeça, dores musculares e agravamento temporário das lesões cutâneas. Costuma resolver-se espontaneamente e não significa falha do tratamento.
A sífilis pode ser transmitida por beijos?
Embora menos frequente, a transmissão pode ocorrer através do beijo se houver uma úlcera ativa (cancro) na boca ou nos lábios.
Quando devo procurar ajuda médica?
Deve procurar ajuda médica sempre que exista suspeita de contacto sexual de risco ou se surgirem sinais suspeitos, como feridas, úlceras, borbulhas ou erupções na zona genital, anal ou oral. Durante a gravidez, a avaliação é fundamental mesmo que não haja sintomas, para prevenir a transmissão ao bebé.
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